sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

“Os homens valem pelo que são, não pelo que têm”

Colaboração especial de José Abílio Coelho
“Os homens valem pelo que são, não pelo que têm”. E quando me refiro “ao que têm” não falo só em dinheiro: falo em poder ou, para ser mais correcto, em poderes. Poder político, poder administrativo, poder de justiça. Três poderes que vêm da Idade Média e que, ao longo de séculos, moldaram tantos tiranos. Eu defendo o homem ideal. (Podem achar-me utópico, mas não me fazem mudar!) O homem ideal, para mim, é aquele que tendo dinheiro sabe respeitar, com respeito genuíno e não de fachada, os que infelizmente o não possuem. O patrão que dá emprego e por via dele pão para a boca, mas que não se serve disso para exercer violências física ou psicológica (esta questão do exercício da violência psicológica sobre o indivíduo dava, nos nossos dias, um tratado). O homem que administrando a coisa pública, é justo e equilibrado, que dá prioridade aos melhores e não aos compadres, que premeia por mérito e não por causa da cor, o que sabe estar suficientemente distante para, nos momentos de decisão, ajuizar com base no curriculum e no conhecimento das capacidades e jamais porque alguém lhe “meteu uma cunha”. O homem ideal é o juiz que, no desempenho das suas funções, não age com quem está do lado de baixo como se ele, o que está do lado de cima e veste toga, fosse Deus a julgar as Almas que estão no “purgatório”. Utópico, repetirão alguns. Será? É-o hoje, agora, porque a esmagadora maioria dos nossos concidadãos são cobardes, baixam a cabeça, estendem o chapéu, dizem amem a tudo… Hoje, grande parte das pessoas têm pouca dignidade e muita falta de carácter. Se um poderoso lhes dá uma ordem, cumprem-na sem questionar, sem pestanejar. Onde está a dignidade daqueles que, a troco de um emprego (ainda que seja de coveiro), juram fidelidades eternas? Onde está o carácter daqueles que, sabendo que o filho do vizinho tem muito mais habilitações para determinado cargo, tudo fazem (entenda-se: metem cunhas e dão garrafões de azeite e chouriços de prémio…) para que seja o próprio filho, terminadas as “novas oportunidades”, a entrar? Shiuuu! Silêncio! Ninguém pode elevar a voz que o senhor se sabe faz troar a sua voz de mando. Esbarra os punhos fechados sobre o tampo da secretária. Shiuuuu, que se ele fizer isso o do chapéu na mão tem de sair às arrecuas… Que povo é este? Onde está o marinheiro do leme que, perante o “mostrengo” se ergueu e disse: “Aqui ao leme sou mais que eu?!!!” Quando deixaremos de apontar o dedo aos vizinhos para podermos dizer: eu sou livre para pensar, para dizer, para escrever, porque tudo o que tenho, tudo o que alcancei na vida, tudo o que sou consegui-o com o meu trabalho e não devo fretes a ninguém? Quantos podem dizer isso e assinar por baixo?
Só quando todos o pudermos fazer e fizermos, as coisas começarão a mudar. Custa, eu sei. É difícil não ter o carro da marca que queríamos, a vivenda à beira mar, a viagem há tantos anos adiada. Não temos isso. Não temos o avião privado. Nem o iate. Nem a conta bancária a abarrotar. Mas não é melhor ter dignidade? Não é melhor podermos dizer? eu não estou à venda! Enquanto este não for o espírito que enforme a vida dos nossos concidadãos, continuará a haver quem mande mal e quem só saiba obedecer. Quem deixe de ser HOMEM para ser uma espécie de servo. Eu não quero ser um desses.
José Abílio Coelho

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

É na descida

Aqueles mais pacientes que se têm dado ao trabalho de ler o que, vou publicando, já perceberam que há muito concluí não existir no nosso país uma verdadeira liberdade democrática ou democracia livre, por muito que se apregoem os Princípios do Estado de Direito vertidos na Constituição.
Já nem me alongo com a clara, flagrante e vergonhosa tentação do Sr. Primeiro-Ministro para silenciar jornalistas incómodos, intrometer-se em questões de gestão dos grupos públicos e privados de comunicação social, enfim, todos os que não façam sua a agenda do governo têm a cabeça a prémio.
Mas este é o mesmo Primeiro-Ministro cujo percurso político e profissional (o pessoal não nos diz respeito), está carregado de zonas nublosas, o mesmo que já mentiu aos portugueses vezes sem conta e sempre com a mesma desfaçatez, aquele Primeiro - Ministro que ainda há bem pouco tempo venceu eleições o que demonstra bem que muito maior do que a nossa crise económica, é a nossa profunda crise de Valores.
Partindo do menos e chegando ao mais, por muito que custe aos que viveram debaixo do sapato do Estado Novo, hoje a censura é um pouco diferente mas existe. Eu, que não sou nenhum Mário Crespo, tenho a felicidade de há alguns anos dispor de um espaço onde não me impõem, nem me limitam que é o Terras de Lanhoso. Por muito diferente que seja o meu olhar sobre a visão das coisas do Director deste Quinzenário, nunca ele me ligou a dizer o que eu deveria ou não escrever, nem tão pouco deixou de publicar um texto por esta ou aquela razão. O que não quer dizer que eu próprio não tema a censura dos que detêm vários poderes, o que mais uma vez confirma que não somos verdadeiramente livres.
Serve isto de intróito a mais uma crítica que pretendo fazer aos tiranos e tiranetes que vão proliferando neste país. Que convivem mal com a liberdade de informação, com a livre opinião e que, é óbvio, têm algo a esconder.
Convivo diariamente com um jornalista que diz em tom jocoso: “-Passo tanto tempo no tribunal a justificar as minhas noticias, como no terreno a investigar os factos”.
É que recorrer aos tribunais não é um direito único dos que são verdadeiramente injustiçados por conteúdos noticiosos fictícios. É também um reduto onde, os visados em notícias verdadeiras, rigorosas e sérias tentam ir buscar a razão que não têm. Muitos utilizam artifícios para intimidar aqueles a quem não o conseguem fazer com o jugo do pequeno poder que detêm.
Ainda há bem pouco tempo o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem condenado Portugal por limitar a liberdade de expressão e a liberdade de os jornalistas publicarem notícias com documentos que as suportem… Os tribunais deviam ter feito o seu trabalho e poupar o país a mais uma humilhação.
Mas a gente vai continuar por cá, haja saúde, os anos vão passar, o poder (não me refiro, agora, ao político) vai mudar de mãos e a malta vai cá estar, haja saúde.
É que Salazar caiu da cadeira, Mussolini foi assassinado, Ceausescu foi fuzilado e todos tiveram em comum o facto de – como diz outro amigo – terem sido apanhados na descida…
É na descida que se apanham os traidores, os tiranos e tiranetes…. Estejamos nós no fundo, a meio ou em cima!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Em meu nome

A sociedade actual tem uma grave doença. Não consegue conviver muito bem com os espíritos desassombrados.
Um espírito desassombrado é o de alguém que não aguarda a opinião de outros para opinar e opina sempre em seu nome, sem meias palavras e, se necessário for, publicamente. Não receia o prejuízo pessoal, fá-lo consciente dos riscos que corre e corre riscos...
Não pensa demasiado no que diz ou escreve. Fá-lo com naturalidade e as coisas fluem...
Dá a cara pelas suas opiniões e repito: opiniões. Só assim se diverte e diverte-se!
A questão é que a mais valia social desses espíritos leva a que outros possam querer falar em nome daqueles, ou pior que isso, presumir a sua opinião e logo torná-la real. Em nome de alguém que desconhece ou com motivações antagónicas ao espírito desassombrado.
É certo que não sou um desses espíritos, mas pelo menos gosto de tentar... Sempre gostei!.
E por vezes na era da opinião "super-sónica", para além daquelas ideias fugazes que necessito de escrever, sinto urgência de publicar o meu próprio pensamento para que ninguém o possa fazer em meu nome.
O que escrevo é o que eu penso e não raramente publico o que escrevo.
Durante 2 anos (2006-2008) já o tinha feito na internet em termos pessoais, mas numa perspectiva diferente. Também em 2006 criei um projecto que tornei mais colectivo e parece ter findado recentemente (2009).
A necessidade é também a de reorganizar a minha própria presença na internet que, para além das redes sociais e deste espaço, terá brevemente novidades.
Assim começa este espaço de textos onde tudo o que for feito será em meu nome.