quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

É na descida

Aqueles mais pacientes que se têm dado ao trabalho de ler o que, vou publicando, já perceberam que há muito concluí não existir no nosso país uma verdadeira liberdade democrática ou democracia livre, por muito que se apregoem os Princípios do Estado de Direito vertidos na Constituição.
Já nem me alongo com a clara, flagrante e vergonhosa tentação do Sr. Primeiro-Ministro para silenciar jornalistas incómodos, intrometer-se em questões de gestão dos grupos públicos e privados de comunicação social, enfim, todos os que não façam sua a agenda do governo têm a cabeça a prémio.
Mas este é o mesmo Primeiro-Ministro cujo percurso político e profissional (o pessoal não nos diz respeito), está carregado de zonas nublosas, o mesmo que já mentiu aos portugueses vezes sem conta e sempre com a mesma desfaçatez, aquele Primeiro - Ministro que ainda há bem pouco tempo venceu eleições o que demonstra bem que muito maior do que a nossa crise económica, é a nossa profunda crise de Valores.
Partindo do menos e chegando ao mais, por muito que custe aos que viveram debaixo do sapato do Estado Novo, hoje a censura é um pouco diferente mas existe. Eu, que não sou nenhum Mário Crespo, tenho a felicidade de há alguns anos dispor de um espaço onde não me impõem, nem me limitam que é o Terras de Lanhoso. Por muito diferente que seja o meu olhar sobre a visão das coisas do Director deste Quinzenário, nunca ele me ligou a dizer o que eu deveria ou não escrever, nem tão pouco deixou de publicar um texto por esta ou aquela razão. O que não quer dizer que eu próprio não tema a censura dos que detêm vários poderes, o que mais uma vez confirma que não somos verdadeiramente livres.
Serve isto de intróito a mais uma crítica que pretendo fazer aos tiranos e tiranetes que vão proliferando neste país. Que convivem mal com a liberdade de informação, com a livre opinião e que, é óbvio, têm algo a esconder.
Convivo diariamente com um jornalista que diz em tom jocoso: “-Passo tanto tempo no tribunal a justificar as minhas noticias, como no terreno a investigar os factos”.
É que recorrer aos tribunais não é um direito único dos que são verdadeiramente injustiçados por conteúdos noticiosos fictícios. É também um reduto onde, os visados em notícias verdadeiras, rigorosas e sérias tentam ir buscar a razão que não têm. Muitos utilizam artifícios para intimidar aqueles a quem não o conseguem fazer com o jugo do pequeno poder que detêm.
Ainda há bem pouco tempo o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem condenado Portugal por limitar a liberdade de expressão e a liberdade de os jornalistas publicarem notícias com documentos que as suportem… Os tribunais deviam ter feito o seu trabalho e poupar o país a mais uma humilhação.
Mas a gente vai continuar por cá, haja saúde, os anos vão passar, o poder (não me refiro, agora, ao político) vai mudar de mãos e a malta vai cá estar, haja saúde.
É que Salazar caiu da cadeira, Mussolini foi assassinado, Ceausescu foi fuzilado e todos tiveram em comum o facto de – como diz outro amigo – terem sido apanhados na descida…
É na descida que se apanham os traidores, os tiranos e tiranetes…. Estejamos nós no fundo, a meio ou em cima!

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